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A nossa história

"O regresso da família ao meio rural e o contacto com os ofícios mais elementares da vida, estabeleceram novos propósitos."

Cansados da dinâmica acelerada da vida citadina, deu-se o desejado êxodo. O regresso da família ao meio rural e o contacto com os ofícios mais elementares da vida, estabeleceram novos propósitos. O Alentejo, pelo seu laço familiar, clima e atmosfera singulares, foi o berço escolhido para esse renascimento. 

 

Com a nossa vinda e inerente aproximação aos costumes mundanos da vida social rural, recheados de insuspeito significado e ética, através dos quais são estabelecidos compromissos de honra entre os aldeões, começámos a dar os primeiros passos rumo à integração na Aldeia.

 

Os encontros casuais nos cafés são parte importante desse percurso. Neles, desmitificam-se os mistérios da natureza, conhecem-se a fauna e flora locais, partilham-se os segredos da agricultura, aprende-se a língua dos bichos e é onde, também, se reúnem os críticos de arte, que elegem a melhor água que arde. O certo é que, após o primeiro trago, não há quem lhe fique indiferente.

 

Da curiosidade partimos para a aprendizagem dos vários ciclos da cultura do medronho, todos eles de relevante importância. A Apanha, na qual se lançam, madrugadores, os grupos de gente que procura, embrenhada no mato agreste, a árvore mais promissora. A Fermentação, processo de enorme rigor, que requer do destilador todo o seu conhecimento secular. A Destilação, incontestavelmente o momento mais sublime de todo o ritual, quase religioso, no qual a gente da estila e seus ilustres convidados aguardam com admirável paciência pela filha do fogo – a Aguardente de Medronho. Por último, vem o Consumo desta pinga, que se bebe aos tirinhos num cálice apropriado, entre amigos, geralmente após as refeições, pois dizem os entendidos que é bom para digerir, embora menos bom para dirigir. 

 

Esta menina espirituosa, embaixadora do medronho e do que melhor se faz no Sul de Portugal, foi a grande impulsionadora do projecto que haveria de nascer. Focados no regresso aos antigos ofícios e seus processos artesanais, com a intenção clara de valorizar um produto de grande expressão local, criámos a "Zorra - Casa de Medronho", um negócio familiar, de produção e comércio de produtos derivados do Medronheiro.

 

O projecto nasceu na Cova da Zorra, pequena localidade da freguesia de São Luís, concelho de Odemira, mais precisamente na degradada e quase esquecida Escola Primária. Este edifício histórico, símbolo arquitectónico das políticas de ensino do regime Salazarista, é actualmente a cova que abriga a nossa Zorra. 

Se, por volta dos anos 90, a grande maioria destas escolas foi desactivada devido, em grande parte, à desertificação das localidades provocada pela fuga das populações para os centros urbanos, hoje, podemos afirmar que a nossa foi reactivada pelo movimento inverso. 

 

A localidade veio dar o seu cunho à criação do nome da marca, mas a escolha não se encerra nesta ligação geográfica. Zorra, além de outras coisas, significa "raposa velha". E se "raposa" sugere, em si, alguma matreirice, juntar-lhe "velha" é retirar-lhe todo o direito de presunção da inocência. Em abono da verdade, esta raposa pode ser menos inocente do que se supõe. Conta-se que, em tempos idos, na Cova da Zorra, curiosamente muito perto da Escola, havia uma “casa de outros prazeres”. Diz o dito local, que "onde a honra passou uma vez, só mulheres para lhe bater contaram-se um cento e três". Se outrora houve falta dela, agora a missão é honrar este animal de má fama, pegar nos fragmentos que habitam este Alentejo supostamente marginal, algures entre a história e o mito, e criar uma identidade carismática, que funde tradição e contemporaneidade.

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